todo dia é sempre igual. só que diferente.



todo dia, na ida e na volta, pego o mesmo ôns, daqueles que têm ar, mas tem tanta gente dentro, que às vezes o ar falta.

às vezes falta também a coragem das pessoas de oferecerem aos idosos o lugar que é deles por direito. se você ainda não sabe, aquelas cadeiras amarelas são destinadas a eles, às grávidas e às pessoas com dificuldade de locomoção. só que pessoas com dificuldade de senso e noção fingem dormir e não se importar.

todo dia, uma nova história. muitas risadas. e outras lições.

um dia, é o motorista que nutre uma paixão platônica (ou não) pela cobradora, elegante e toda trabalhada no salto alto, no batom vibrante e nos cabelos esvoaçantes. pra ele, sem ela não tem viagem. pra ela, a vontade mesmo é estar dentro do Corolla que está parado no ponto final.

outro dia, a bolsa da mulher de 48 anos esquecida no ôns na ida, mais cedo, foi o assunto da volta, mais tarde. do esquecimento, o assunto passou para a família: ela relatou ter, com essa idade, 10 filhos dentro de casa. o que já é uma informação impressionante pelo fato dela estar sorrindo a caminho da casa no Morro do Papagaio, por ter um corpo enxuto, por se mostrar feliz com as pequenas coisas, como as grandes panelas cheias no fogão pra alimentá-los, tudo isso mesmo estando preso o seu filho mais velho, de 24 anos (ou mais ou menos, porque ela diz não se lembrar de todas as idades - o que é plausível, ela passou, desde os seus 24 anos, muito ocupada transando e tendo bebês, a memória é o que menos importa agora). mas não acaba por aí, o melhor vem a seguir, na próxima frase dela: 'menina, você vai ficar impressionada, mas a minha filha mais nova tem 11. MESES. se você não lembra a idade dela, volte algumas linhas acima pra confirmar que ela teve essa filha com 47 ANOS. é, a gente aprende muita coisa no ôns sobre a vida, sobre as relações, sobre as lutas diárias, sobre a fé.

todo dia, tem muito estilo (ou a falta dele) dentro do ôns. tem os milhares de barbudos que entram e saem em vários pontos, tem o cara que usa lápis de olho e um turbante muito maior e muito mais bem feito do que os meus, e o outro garoto que é lindo, tem um bigode vintage e toda semana adentra o recinto com as unhas lindas, uma cor de esmalte diferente sempre e cutículas muito bem tratadas (daquelas de dar inveja em qualquer garotinha).

no ôns tem também muito flerte - leia-se 'pessoas que trocam olhares umas com as outras, ou comigo, mas que não conversam entre si' (pelo menos comigo nunca deu em nada, infelizmente, porque tem cada barbudo - de novo! - que eu vou te contar viu). Ah, tem os crushes também, que é quase a mesma coisa, mas com esses você fantasia um relacionamento. e fica só na imaginação mesmo. mas é muito mais concreto (olha que beleza, tu pode pensar o que quiser, e na sua cabeça, sempre tem final feliz!).

todo dia, menos quinta, tem casos que o pastor não vai gostar de ouvir (né, Isabel?), gargalhadas histéricas, daquelas de cair lágrimas dos olhos, fazer a barriga doer e todo mundo ao redor pensar que somos loucas. nas quintas, volto sozinha, e gargalho por dentro lembrando dos casos relatados no restante da semana. tem cada coisa que só Jeová pra salvar viu - e junto com Jireh! temos que agradecer muito a Ele por prover tanta bobiça e alegria nesse nosso retorno pra casa.

todo santo dia, temos que agradecer também por passarmos intactos aos assaltantes, que já sabem que usamos porta-dollar, que colocamos os celulares nos peito e que fones de ouvido brancos são do iPhone (isso é minha mãe quem fala em toda santa ligação ou sms, que também fazem parte da minha rotina dentro dos coletivo da vida - lembrando que ela manda, quer resposta, e quando eu respondo ela xinga porque estou com celular na mão no ôns - me ajuda, Pai, a saber como lidar!). obrigada Senhor, e livra nossos ôns desses malditos que não nos dão paz pra ouvir o Spotify (que pagamos todo santo mês) pra cantar ao léu ou ler nossos livros doidas pra saber o que acontece no final.

todo dia, a gente pensa em ter o conforto de um carro. de ter sossego pra ir e voltar pra agência. mas na verdade, o ôns é uma das melhores partes do dia. do meu, do seu e de muita gente, com certeza. fica (e vai no ôns) com Jeová, viu!

Um comentário:

  1. O ons é assim mesmo. Várias historias, várias pessoas, vários bancos (cheios) e também várias lições no nosso dia a dia, pois ali todo mundo é igual, respira o mesmo ar (quente) e ainda se diverte.
    Você não falou, mas tem os dias de nave, kkkkkkkkkkkk. abs

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